sábado, 25 de outubro de 2014

Untitled #03




O Triste, o sádico, o malvado.
O Traidor, o malfeitor, o mal-amado.
O Durão, o patife, o mal-encarado.
O jogo virado, o futuro amaldiçoado.

E ainda sim, este é o preferido.

E as coisas mudam.

O Feliz, o caloroso, o animado.
O Justo, o sincero, o afamado.
O leal, o acolhedor, o bem-afeiçoado.
O jogo aberto, o futuro formado.

E esse ainda sim, é o abandonado.

E as coisas nunca mudam.

Melhor ser o fechado, o lado negro, o maldito,
Do que se esforçar em ser bom, e ser descartado.

Tenham isso de mim, e somente isso.
Nada mais será roubado, pilhado, saqueado.
O nada acordou, reassumiu, e prevaleceu.

E ainda sim, é esse que todos querem.

E as coisas são assim.

domingo, 20 de julho de 2014

Quebra-mar (a Onda).



O que vai dizer Ou não, Se não quer ficar, Só vá, Não gaste o seu ar, Em vão, Pra poder cruzar, O mar, Deixar se levar, Ou mergulhar, Voltar à superfície, ou Afundar, De vez...E me afogar... Ainda posso escolher, Entre desistir ou continuar,  Reaprender a nadar, Ou ficar no cais... Meu caminho irei refazer, Olharei para o horizonte, Sentado no quebra-mar, Mais uma vez... Junior Lima.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

COMA.



Me vejo completamente na minha sombra,
Porém não sinto nada, são ilusões?
Ou talvez sejam partes de mim, virando pó enquanto desapareço...

Uma enorme porta aberta no fim do túnel,
Não me deixa passar, é uma ironia?
Ou talvez seja o limite entre viver e existir, já que para a vida não há sentido...

Perdido e cego, com o mundo nos ombros
Talvez não ser ninguém ajude, apenas um intruso.
Só vejo em preto-e-branco... escombros
Talvez a esse lugar eu pertença, ou aqui eu esteja preso.

Labinto que eu mesmo criei,
Que me faz dar voltas e voltas,
E parar no mesmo ponto que acordei...
...ou simplesmente adormeci.

As cores não batem,
Os sons não existem, não faz sentido,
Quais são os alvos,
além do que está pintado no meu peito?

Alguém me acorde, me tirem do mar,
Afundando no escuro, até sufocar,
Não consigo dormir, tão pouco despertar,
Religuem os aparelhos, devolvam meu ar.

Aumentem a voltagem do desfibrilador,
Me acertem com algo em carga máxima,
Não posso mais fingir que não há dor,
Mas não devo permanecer em coma.

Bombeiem algo quente em meu coração,
Pelo buraco onde a esperança está vazando,
Massageiem até ele entender a ação,
Já que não sei como deixá-lo funcionando.

E a dor,
Em ser,
Podem voltar a aparecer,

E o amor,
Ao meu ver,
Pode voltar a morrer.


Junior Lima.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cópia Recursiva



Cópia de uma cópia de uma cópia vagando,
Nada é criado, apenas vem se transformando.
Traços inócuos alterados nove vezes nove,
Estático em um mundo frio que se move.

Sou mil cópias de meus ancestrais,
Preso pelo sangue que não é o meu,
Linhas tênues distorcem, anormais,
Ainda por vir, o que já aconteceu.

Destruo o mundo sem sair do lugar,
Vejo amigos que não conquistei,
Esmagando todas as rosas sem tocar,
Plantadas nos campos que não caminhei.

Fato óbvio que desmotiva,
Ser uma cópia recursiva,
Que distorceu sua geração,
Mutação, dilaceração, evolução?

Reproduzido de forma diferente,
Mil ruídos diferentes em um só,
Deixo de ser eu mesmo, um caos emergente,
Ou deixo ser eu mesmo ser, até virar pó

Me torno um nada diferente,
Me torno um nada diferente,
Me torno um nada diferente,
Me torno um nada,
Me torno nada,
Me torno,
Retorno.

Junior Lima.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Barco de Papel



Esse é o momento de sumir do centro das atenções,
Quebrando os holofotes, e caminhando longe das multidões.
Sair de foco, enxergar fora de foco, perder o foco...

Desfocar... e desaparecer...

Como um barco de papel lançado na beira de um cais,
E como um campo de dente-de-leão invadido por vendavais.
Que dança no ar, se perde no ar, se torna parte do ar...

Despedaçar... e desintegrar...

E assim, somente assim e só,
Me tornar Um.

 Junior Lima

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Tapetes e Sapatos



Um brinde a mim, que me tornei um poço de suas lamentações,
Um alvo de dardos, saco de pancadas, para receber suas reclamações,
E te dar a certeza, que por todo tempo terás um capacho para limpar os sapatos,
Um joguete, apenas um pedaço da foto que foi rasgada do seu porta-retratos.

Entre tantos, apenas mais um pássaro engaiolado,
Que enreda seu descanso como som de fundo,
E cada frase clamada de lamento incompreendido,
É entendido como música ao pé do seu ouvido.

Então vou me explodir,
(Para que eu separe toda a parte em mim ferida),
Me desintegrar,
(Para que não sobre o que lembrar desta vida),
E me reinventar,
(Para que haja um recomeço, e um ponto de partida).

E finjamos que tudo isso seja verdade,
Pois nada será diferente - (re)veja os fatos,
Por mais otimista que seja a realidade,
Estarei embaixo de outro par de sapatos.

 Junior Lima

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Deitado na estrada.



Ninguém sente mais nada,
Em qualquer noite, onde as pessoas passam,
Olhares se trocam, bocas se encontram,
Mas ninguém sente mais nada.

Onde a noite corre rápido,
Como os carros que vejo de relance,
Onde eu estava, não me recordo,
Tanto faz, não vou escrever um romance.

O suor rubro que corre de uma ferida,
É apenas uma nova expressão de cor,
Que congela a tranca da porta de saída.
Na madrugada fria, cinzenta e cheia de dor,

Mas ainda posso ficar deitado assim,
Acendo um cigarro, e sinto a camisa molhada,
Esse sangue é meu? eu vou morrer aqui?
Que seja, vou admirar a lua deitado nesta estrada.

 Junior Lima